quarta-feira, 26 de novembro de 2008


Texto e Linguagem

“É um homem falando que encontramos no mundo, um homem falando a outro homem, e a linguagem ensina a própria definição de homem”.
(É. Benveniste)

Aprendendo a se comunicar

Calcula-se que o homem tenha aprendido a falar há cerca de 30 mil 50 mil anos. Provavelmente, começou imitando o som das coisas que o cercavam. Os homens primitivos viviam isolados uns dos outros. Cada grupo possuía uma linguagem. Como não tinham moradia fixa e mudavam muito de lugar, em busca de comida ou fugindo do frio, o jeito de falar de um grupo misturava-se com o de outro.

Várias línguas
Nos dias atuais, são falados cerca de cinco mil idiomas no mundo. Esse número já foi maior, chegando a 10 mil. Algumas línguas morreram quando os povos que falavam desapareceram ou foram se misturando com outros povos, mudando o seu jeito de falar. A língua mais falada no mundo hoje é o inglês.

Códigos e Símbolos
Pare um pouco e observe: estamos cercados de sinais e símbolos por todos os lados. Graças a eles, a vida em sociedade torna-se mais fácil. Já pensou a bagunça que seria se cada pessoa tivesse o seu código de comunicação? Eles existem para orientar e organizar nossas atividades, como os códigos de trânsito, o alfabeto, os números, a escala musical, entre outros.

Comunicação especial
Há códigos que são usados para permitir a comunicação de pessoas com alguma deficiência. O alfabeto braile, por exemplo, criado por Louis Braille (1809-1852), usa pontos em alto-relevo que representam letras do nosso alfabeto e pode ser “lido” pelo toque dos dedos.

1-Texto, linguagem e interação.

O que é interação?
É construir conjuntamente os significados da comunicação, partilha. No entanto, existem regras nessa interatividade, para orientar como se dará o desenvolvimento.
As regras devem se seguidas para o adequado uso da linguagem em cada situação, para que a comunicação será interativa.
Em relação ao ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa existem regras gramaticais a serem seguidas. Será que podemos dispensar tais regras e focar apenas no estudo de textos?
Na prática pedagógica de Língua Portuguesa percebemos que os erros presentes nos textos dos alunos acontecem com bastante freqüência. O texto deve ser considerado uma parte importante no ensino da língua, no entanto, antes disso que tal estudar o que é língua?
Podemos considerar a língua como um conjunto de signos (de sinais com significados) sistematicamente organizado e signo como todo e qualquer sinal que representa outro objeto, construindo um sistema significativo. Mas a língua não se restringe apenas a esse conceito. Ela é nosso meio de comunicação, nossa forma de interagir com o mundo que nos rodeia.
O ensino tradicional de Língua Portuguesa é estruturalista, pois focaliza o código (palavras e combinações de palavras), deixando de lado os aspectos comunicativos, de construção de sentidos da linguagem. Por isso é necessário termos cuidado ao adotarmos o livro didático que será utilizado em nossa prática pedagógica. Será que existe comunicação e interação? O conteúdo abordado é significativo? Ou será que a ênfase está sendo dada apenas aos aspectos gramaticais de forma estanque, sem nexo?

Análise do livro didático

Ao adotarmos um livro didático é fundamental exigirmos por qualidade, pois suas contribuições efetivas na aprendizagem dos alunos dependem desse fator. Sabemos que a decisão sobre a qualidade do livro didático é indiscutivelmente dos professores e da escola. Desse modo, reconhecemos os méritos da avaliação do MEC, no sentido de retirar do mercado os livros de baixíssima qualidade e incentivar a produção de obras mais atualizadas, mas devemos questionar as contradições que existem entre as expectativas de quem avalia e de quem usa os livros nas escolas.
É importante que a escolha do livro didático seja feita de forma criteriosa e fundamentada na competência dos professores que, juntos com os alunos vão fazer dele um instrumento de trabalho. Ouvir a opinião dos professores e demais profissionais das escolas sobre os livros didáticos é de fundamental importância para que a escolha desse livro auxilie, de fato, as práticas escolares.
Portanto, alguns aspectos devem ser observados na escolha: os conteúdos dos livros utilizados devem corresponder à realidade cultural dos alunos; o livro deve apresentar sintonia com o projeto pedagógico da escola; as concepções de ensino, aprendizagem e linguagem devem estar claramente consideradas no livro; a proposta pedagógica deve apresentar diversidade de textos (considerando temáticas, a autoria, os gêneros, etc.) e atividades; a proposta da obra deverá estar adequada ao perfil dos alunos e às realidades específicas da escola.
Além disso, vale ressaltar que os textos presentes no livro devem estar isentos de preconceitos e doutrinações, devem promover a aquisição de valores e atender os principais eixos do ensino da língua e às diversas capacidades envolvidas em sua aprendizagem.
Como professora de séries iniciais da rede pública de ensino, tenho achado os livros de Língua Portuguesa recomendados pelo PNLD difíceis de serem utilizados nas salas de aula. Alguns livros apresentam textos longos e de difícil compreensão; outros não trazem a parte de gramática e de ortografia “arrumadinha”.
Costumo utilizar os livros mais antigos, gosto mais dos livros tradicionais, pois são mais completos, seguem uma seqüência didática, contempla os conteúdos mais significativos. Porém, utilizo alguns textos de autores atuais quando acho interessante, ou quando tem a ver com o que estou trabalhando em sala, para fazer analogias (intertextos). Para mim o livro é usado como um material pedagógico de apoio para organização da prática pedagógica e não como único instrumento.



Produção de texto

Um texto é a unidade comunicativa por excelência, seja ele escrito ou falado. É pelos textos que se dá a comunicação entre as pessoas. Além de comunicar são também uma forma de interagir com os outros, ou seja, promove a socialização. Portanto, o texto é uma unidade lingüística interativa por excelência, pois é por meios de textos que interagimos social e culturalmente.
A produção escrita é uma decisão do aluno, contudo, ele deve ser motivado a produzir, determinado um objetivo, num determinado contexto. A escrita na escola ou fora dela, deve servir a um objetivo, ter uma função e dirigir-se a um algum leitor.
Uma palavra qualquer, um nome próprio podem ser um texto, se forem usados numa determinada situação para produzir um sentido. Assim, as crianças que iniciam sua escolarização podem produzir textos escritos desde os primeiros dias de aula. Tudo depende de os exercícios de escrita estar vinculados a situações de uso em que eles façam sentidos, tenham razão de ser e obedeçam a determinadas regras.
Quando os alunos se envolvem na produção, individual ou coletiva, tendo em mente qual é o objetivo da escrita, quem vai ler o texto, em que situação será lido, com certeza terão mais cuidado ao escrever, dedicarão atenção especial à grafia das palavras.
Outro ponto importante é o planejamento antes de escrever, considerando o tema e seus desdobramentos, para tanto, é necessário que o texto tenha coerência, ou seja, tenha uma organização do conteúdo de modo que pareça “lógico” para o leitor, bem encadeado e sem contradições.
É possível começar a aprender a planejar o texto que se vai escrever, cuidando da escolha do tema e da seleção e encadeamento das idéias em que ele vai se desdobrar antes mesmo de saber escrever ou ter domínio da ortografia. Essa capacidade pode ser desenvolvida na produção coletiva de diversos gêneros, com textos curtos ou longos.
Por exemplo: Foi desenvolvido todo um trabalho em torno de uma festa das regiões. Primeiro, foi feita uma abordagem social de cada região, as diversas manifestações culturais, os costumes, a culinária. A turma ficou responsável, por meio de um sorteio, em fazer alguma apresentação folclórica sobre a região norte (Boi Bumba). A professora escreve no quadro de giz um tema pertinente, relacionado com a festa: Quais são as suas expectativas em relação à festa “Encanta Brasil”?
Numa produção coletiva, o encaminhamento foi facilitado por algumas questões: O que vocês esperam da festa?Por onde podemos começar dos preparativos? No que nós, como grupo, estamos contribuindo para que essa festa de fato aconteça? E as rifas, os bingos? E a dança, como estamos nos ensaios? Quem será o Rei e a Rainha da festa?
Ao responder tais questões, o desencadeamento de idéias deve ser organizado, ou seja, faz-se um planejamento da coerência do texto. Como serão muitas informações, todos querem dar opiniões, basta fazer a ligação das idéias e suprimir outras que sejam parecidas ou repetitivas. Ao fazer a exposição deste texto, os leitores perceberão que houve a preocupação em escrever corretamente, pois outras pessoas iriam ler, por isso, é necessário levar em conta para quem e para que se está escrevendo e em que situação o texto será lido.
.



OBS: Explore a oralidade dos alunos como base de uma produção de escrita.

Desafio da escola

A partir do momento em que nascemos, começamos a aprender. Com os nossos cinco sentidos (tato, olfato, visão, audição e paladar), desvendamos o mundo e somos capazes de comunicar nossas idéias e nossos sentimentos.
Aos poucos, nos preparamos para desafios maiores e vamos para a escola. Parece, então, que adquirimos um outro sentido, que amplia a capacidade dos demais. Dessa forma, podemos ter acesso ao conhecimento construído pela humanidade por séculos. Ler e escrever são as primeiras conquistas, mas em seguida vamos aprendendo outras, como novos códigos, idiomas e maneiras de viver de outros povos.





Comunicação e Interação

Texto visual

Conhecer todas as palavras da Língua Portuguesa de nada valeria para compreender um texto visual. Uma leitura assim depende do conhecimento que o leitor tem, que lhe dará condições de interpretar uma propaganda, por exemplo. Os textos como unidades de interação veiculam muito mais idéias do que aquelas expressas apenas por palavras, eles ampliam nossa visão de mundo.
A maneira como nos vestimos, por exemplo, visualmente diz muito sobre nós. A forma como utilizamos a linguagem faz parte desse conjunto de características. Da mesma forma acontece com o texto, se a leitura não parecer atraente ao olhos do leitor ele não perderá seu tempo lendo. Por isso a preocupação em torná-lo instigante, criativo, inovador, prático, informativo para que haja interação com o sujeito.
Faz-se necessário, portanto, diferenciar o texto como atividade unidade interacional do texto considerado apenas uma unidade comunicativa. Considerando que a função básica do texto é transmitir mensagens, a língua seria então um instrumento de comunicação, no entanto, o contexto é que constrói a significação.
Pelo diálogo, ou falta dele, muitas relações são alteradas. Quando incorporamos fatores sociais à própria significação de um texto, ele passa a fazer sentido sempre em relação a determinado contexto. Dessa forma, quando um texto depende de um contexto não quer dizer que ele é inadequado, em algumas situações essa dependência é necessária.
Contudo, percebemos que a comunicação é um dos principais motivos pelo qual usamos a língua, além de compreendermos outros comportamentos sociais que se constroem com a linguagem, como: as ordens, os mal-entendidos, as promessas, as mentiras...







Bibliografia: O poder da comunicação Coleção DE OLHO NO MUNDO. Abril Multimídia. Revista Recreio.

2-Variação Lingüística

O objetivo deste encontro é valorizar o idioma com as suas variedades, observando aspectos de oralidade e escrita.
Você já parou por um minuto para avalias a sua fala?
- Como é a sua fala?
- Como você percebe a sua fala?
- Como os outros avaliam a sua fala?
-Como você se comunica com o outro?
Percebo a minha fala sendo conduzida de maneira natural. Existem momentos e lugares em que utilizo a fala com mais formalidade, quase não faço uso da norma culta, no entanto, apenas na escrita, pois aqui ela é imprescindível, indispensável. Existe uma mistura de regionalismo mas nenhum sotaque. No entanto os marcadores como: “não é verdade”, “né”, “ certo”... Estão presentes na minha fala, mas não é uma constante.

Assim como todas as línguas, o Português varia de acordo com as características dos diversos grupos de falantes e com as diferentes situações sociais de uso. Somos capazes de diferenciar o modo de falar de uma região para outra, ou como as pessoas mais escolarizadas falam diferente das que quase não freqüentaram a escola, ou como os jovens falam diferente dos mais velhos.
Além disso, em determinadas situações mudamos o nosso jeito de falar. Quando estamos entre amigos, num momento de descontração, ficamos mais relaxados e nossa fala se torna informal, mas diante de um juiz, por exemplo, nossa postura deverá ser de total formalidade e respeito. Essa diversidade no uso da língua é que chamamos de “variação lingüística” em que cada um dos modos de falar é chamado de “variedade”. Saber adequar o modo de falar às diferentes interações é uma capacidade lingüística de valor e utilidade na vida do cidadão e por isso é que deve ser desenvolvida na escola.
A variação lingüística não acontece apenas na fala, mas também na escrita. Na escola o aluno presencia essas variações, e acredita-se que se vai à escola para aprender uma dessas variedades, a que tem maior prestígio social: a língua padrão escrita ou a norma culta.
A escola é a instituição socialmente encarregada de possibilitar a todos os cidadãos o domínio da variedade padrão escrita da língua, para as práticas de leitura e de produção de textos. No entanto, o aprendizado de escrita não se resume ao domínio do padrão culto, porque circulam na sociedade textos escritos em outras variedades lingüísticas. Se um aluno quiser produzir um texto engraçado ele poderá utilizar uma linguagem mais leve, descontraída. Mas se estiver redigindo uma notícia para o jornalzinho da escola, deverá saber utilizar outro tipo de vocabulário. Daí a importância de o professor trabalhar com diferentes variedades e estilos, de gêneros diversos em sala de aula, para que o aluno possa utilizar desses recursos com segurança e habilidade, pois se sentirá mais familiarizado com o assunto.

Prática docente
----------
Em meados do primeiro semestre (segundo bimestre), recebi um “aluno novo” em minha sala, seu nome era Flávio Pinto. O seu sobrenome, se falado em voz alta, causava sempre uma algazarra na turma, difícil de controlar. Mas o que mais chamava atenção, além do sobrenome, era a sua fala. Não precisávamos ler o seu relatório para saber que o aluno vinha de um outro estado. O seu falar o denunciava. Sua terra natal era Maranhão (cidade de interior), estava fora da faixa etária (12 anos) e o pouco que aprendeu em sua antiga escola não era o suficiente para cursar uma quarta série, ou seja, apresentava defasagem de conteúdos. Falava muito rápido, arrastando os finais das frases. Algumas expressões eram típicas de sua cidade e os seus colegas não entendiam nada, apenas riam.
Percebi que em alguns momentos ele se comportava com apatia, desinteressado e até com atitudes mais agressivas, pois seus colegas não perdoavam, qualquer brecha era motivo de gracinhas. O chamavam de “Paraíba”, não sei por que, talvez relacionassem à Região Nordeste. Tenho que admitir que “às vezes” eu mesma não conseguia conter os risos. Ou seja, sua fala era criticada e vista como “errada”. Então comecei a fazer um trabalho de valorização da diversidade cultural. Como estávamos trabalhando as Olimpíadas de Pequim, pedi que os alunos trouxessem reportagens relacionadas com o tema. Foi então que toquei no assunto das variedades na língua, nas raças, de costumes entre vários países e entre vários estados também. Foi uma aula bastante rica pois eles começaram a relatar expressões engraçadas do cotidiano das suas realidade, de pessoas mais velhas, como os avós, vizinhos mais antigos. E perceberam que podemos sim conviver com as diferenças e que essas variações nos enriquecem. O aluno Flávio, que era o foco do meu planejamento, também participou, meio tímido no início, mas sentiu-se mais seguro e até relatou como era o dia-a-dia no local onde morava, o seus colegas começaram a fazer uma série de perguntas e houve uma socialização inesperada.
A única dificuldade encontrada era que, além de apresentar defasagem no processo de ensino-aprendizagem, ele produzia textos transcrevendo sua fala. Como isso estava enraizado o trabalho tornou-se bastante lento. Não tive como acompanhá-lo até o final do ano, pois saí da escola, porém, sei que a partir desse dias, o convívio com os colegas tornou-se mais amigável, os meninos, por exemplo, notaram que ele tinha uma qualidade apreciada por eles: habilidade com a bola.

------------

Nesse caso, a interferência do professor é primordial. Tentei fazer com os alunos chegassem a conclusão que o Português falado em áreas rurais não se caracteriza como erro, apenas é diferente do Português em áreas urbanas. A diversidade das formas de expressão oral deve ser respeitada.
Faz parte da formação linguística do cidadão reconhecer a existência das diversas variedades da língua, exigir respeito para com a maneira de falar que aprendeu com a família e seus conterrâneos, mas também, saber respeitar as variedades diferentes da sua.
Algumas escolas ou até mesmo os professores valorizam apenas os alunos cujo grupo social utiliza a língua culta. No entanto quando se considera a linguagem como forma de interação ente as pessoas histórica, geográfica e socialmente situadas, não dá para desconsiderar os muitos dialetos ou variedades lingüísticas que identificam os indivíduos que interagem verbalmente. Por isso a escola deve abolir o pensamento de que existe uma única forma de falar e deixar de lado os preconceitos lingüísticos que acabam se transformando em preconceitos contra os falantes de dialetos diferentes. Deve-se aceitar os diferentes dialetos e ensinar aos alunos a variedade culta da língua, explicando-lhes as situações em que ela deve ser empregada. Lembrando que as atitudes não mudam de um dia para o outro, acontece gradativamente.

--------------
A variação lingüística sempre esteve presente em nossa língua, desde a sua formação até sua estruturação, podemos perceber que ocorreram mudanças inovadoras da língua. Portanto, a língua não é homogenia.
É importante ressaltar que a língua latina veio a desempenhar um extraordinário papel na história da civilização ocidental. O latim vulgar foi levado por romanos a várias regiões conquistadas. No século V, o regionalismo estava mais próximo dos idiomas românicos do que do latim.
No século VII surgem os primeiros documentos que chegaram até nós redigidos em galego-português. Nos séculos XV e XVI: os portugueses ampliaram sua língua. No Brasil, a língua portuguesa apresenta diferenciação com o português de Portugal, diferenças essas, sintáticas, semânticas e fonéticas; além disso, os fatores sociais, geográficos e históricos também afastavam ainda mais o nosso português do português de Portugal.
O primeiro rival da língua portuguesa foi o tupi. Temos de providência indígena muitos nomes de lugares, utensílios, alimentos, flora e fauna. Além disso, tivemos a contribuição árabe e africana.
A evolução perpassa pela diversidade que é a transitoriedade da língua. Sabemos que é irreal o nivelamento da língua pois existem fatores: social, histórico, geográfico e cultural que possibilitam variações. Foi de evolução em evolução que chegamos até nosso falar; ou ainda estaríamos falando latim.

Onde tem variação também tem avaliação

- A avaliação é essencialmente social, isto é, não é a língua que está sendo avaliada, mas sim, a pessoa que a usa daquele modo;
- Temos como conseqüência dessa avaliação o preconceito lingüístico, que nada mais é do que acreditar que a pessoa que não sabe “falar direito”, também não sabe pensar direito;
-A escola deve alertar para a existência do preconceito lingüístico, criticá-lo e impedir sua propagação.



3-Mudança Lingüística

É fato que as línguas mudam com o passar do tempo. Porém tal mudança sempre foi vista como uma coisa negativa, como decadência da língua. Com o avanço dos mais profundos estudos sobre a linguagem em relação a mudanças lingüísticas tendo como base a língua e a sociedade é que esse processo de mudança das línguas foi visto com um olhar diferente.
Na prática docente, percebemos muitos erros, tanto no falar como numa produção escrita praticados pelos alunos. No entanto o erro tem explicação, existe sempre um porque. Alguns professores de Língua Portuguesa acreditam que a maioria dos alunos fala “tudo errado”. No entanto falta um pouco mais de entendimento e informação sobre a realidade de vida desses alunos, suas condições sócio-econômicas, nível de escolarização e fazer uma reflexão sobre isso pois está relacionado com mudanças presentes na língua falada e escrita. Não podemos contribuir para a exclusão e discriminação social. A língua pode se tornar um instrumento de repressão, alguns alunos, quando são ridicularizados pelos colegas por seu jeito de falar, acabam evitando participar das aulas por medo de sofrer humilhação.
A língua é dinâmica. Nela percebemos a presença de formas antigas e novas, ou seja, o velho e o novo convivem na língua atual. Como foi dito anteriormente, a língua não é homogenia, está sempre em movimento, se transformando. Portanto, a língua é um sistema essencialmente heterogêneo e variável. Essas transformações da língua ocorrem como uma espécie de competição em que uma da formas usadas de um determinado vocábulo acaba vencendo e a outra, por estar em desuso, acaba desaparecendo, ou seu uso será restrito a um determinado grupo social.
Ao estudarmos a história da Literatura Portuguesa, por exemplo, vamos encontrar muitas formas que atualmente não são usados e perceberemos nitidamente que a língua portuguesa mudou e porque não podemos aceita que essa mudança é natural e necessária. Algumas palavras usadas em fases mais antigas da língua podem ser encontradas em textos muito antigos e não é considerada uma escrita errada.
Ao pronunciarmos algumas palavras, a fala denuncia nossa origem. Isso acontece geralmente com pessoas da zona rural ou que fazem parte de camadas sociais mais desprestigializadas. Na escola, o professor deverá ter consciência de que é importante discutir os valores sociais que uma variação lingüística dentro da sala de aula pode trazer. Levando o aluno, falante desta variação, a compreender que sua produção lingüística, falada ou escrita, sempre estará sujeita a avaliação social, que poderá ser positiva ou negativa. O professor não poderá discriminá-lo por falar ou escrever de tal maneira, mas deverá apresentá-lo à norma culta como uma opção de uso, mostrando a ele que essa norma padrão é a que é aceitável pela sociedade vigente, cuja utilização cabe ao falante.
Portanto, a língua sendo heterogênea, sempre vai oferecer mais de uma maneira para dizer a mesma coisa. E não podemos dizer que é um defeito da língua, antes disso devemos considerar uma série de fatores que implicam nessas mudanças: fatores sociais como grau de escolarização, idade, origem, sexo, status socioeconômico. E tudo isso deve ser respeitado, nesse caso o papel do professor é o de ampliar o universo lingüístico dos alunos, mostrando a eles que só se aprende praticando, tanto a leitura como a escrita, ou seja, por meio do letramento.




4-Letramento


Alfabetização pode ser conceituada como a capacidade de decodificar os sinais gráficos (na leitura), transformando-os em sons, e, na escrita, a capacidade de codificar os sons da fala, transformando-os em sinais gráficos dentro um processo de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita. No entanto, o aprendizado da escrita não se reduz apenas ao domínio de “sons” e “letras”, mas se caracteriza como um processo ativo no qual a criança constrói e reconstrói hipóteses sobre o funcionamento da língua escrita, compreendida como um sistema de representação.
Progressivamente, o termo alfabetização passou a designar o processo não apenas de ensinar e aprender as habilidades de codificação e decodificação, mas também o domínio de conhecimentos que permitem o uso dessas habilidades práticas sociais de leitura e de escrita. É diante dessas novas exigências que surge um novo nome para o termo alfabetização funcional, criada com a finalidade de incorporar as habilidades de uso da leitura e da escrita em situações sociais e, posteriormente a palavra letramento.
Com a utilização do novo termo, muitos pesquisadores passaram a diferenciar alfabetização de letramento. O primeiro utilizado para designar o aprendizado inicial da leitura e escrita e do funcionamento dos mesmos e o outro reservado para designar os usos (e as competências de uso) da língua escrita, ou seja, o uso dessas habilidades em práticas sociais em que escrever e ler são necessários. Percebemos então que, o domínio e o uso da língua escrita trazem conseqüências sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas, lingüísticas, quer para o grupo social ou um indivíduo que aprenda a usá-la.
Concluímos então que letramento é o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever, bem com utilizar essas habilidades em práticas sociais (de ler um bilhete simples a escrever um romance), é o estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da língua escrita e de ter-se inserido num mundo organizado diferentemente: a cultura escrita.

Vivência:


Em nosso dia-a-dia deparamos com possibilidades de interpretar o mundo, de compreender o que nos rodeia, ou seja, utilizarmos a leitura e a escrita na nossa vida prática, deste escrever um simples bilhete até redigir um ofício numa repartição pública. Como professores, na prática docente, a preocupação nas séries iniciais sempre foi de ensinar o aluno a ler e escrever, ou seja, alfabetizá-lo. E isso por si só bastaria, quando o aluno apresentasse o tão famoso “estalo”, ou seja, estivesse lendo e escrevendo estaríamos satisfeito.
No entanto, vejo que isso não é o bastante. Tive alunos que demonstravam muita dificuldade quanto à leitura e a escrita, mas a leitura de mundo, ao relatar fatos do dia a dia, vivência familiar era bastante intensa. E tive alunos também que aprenderam a ler e escrever sistematicamente, como “robozinhos”, no entanto, não interpretava textos tão bem. Por isso me pergunto ao repensar minha prática: Será importante sistematizar o processo de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita se o aluno não tem saberá fazer uso dela na prática social?
Atualmente, observo em algumas reportagens que o índice de analfabetismo no Brasil está decaindo. Mas quem é considerado alfabetizado? Aquele que sabe escrever seu nome? E quanto a todo o resto, que a meu ver é o essencial? Nossos alunos não podem ser considerados alfabetizados por saberem mais do que assinar o próprio nome, por exemplo. Além disso, eles devem aprender também a utilizar a língua, seus conhecimentos a respeito dela (funcionamento e natureza) para benefício próprio, para quando, por exemplo, num futuro não tão distante eles forem submetidos a uma prova de concurso, consigam não apenas ler os textos que ali estão e sim saber interpretá-los ou até mesmo fazer analogias, ou serem capazes de fazer uma paródia, ou uma paráfrase. E isso tudo depende de vivência também em seu convívio familiar, social, ter um espírito investigador, se informar sobre tudo, ler diversos tipos de textos, desde revistas em quadrinhos até bulas de remédios ou manuais de instrução. Portanto, uma pessoa pode ser alfabetizada e não ser altamente letrada ou ser letrada sem ser alfabetizada.




5-Gêneros e tipos textuais


Na prática diária em sala de aula ao utilizarmos a linguagem nos deparamos com textos variados de acordo com o objetivo a que se propõem e a situação em que são produzidos, ou seja, cada texto apresenta um gênero textual que se adequa às mais diversas situações de comunicação. O interessante ao apresentar vários gêneros textuais ao aluno é que eles vão aprendendo que existem linguagens diferentes, e precisamos distinguir umas das outras, analisando qual gênero “combina” mais com determinada situação. São exemplos de gêneros textuais: carta, telefonema, bilhete, entrevista, blog, e-mail, aula, novela, cardápio, receita médica, etc. Deste modo, os gêneros seriam as maneias de organizar as informações lingüísticas de acordo com a finalidade do texto, com o papel dos interlocutores e com as características da situação.
A maneira de organizar a seqüências lingüísticas (estruturais e formais) no texto é o que chamamos de tipos textuais. Os tipos podem ser: narrativo, expositivo, descritivo, argumentativo, injutivo ou instrucional. Eles são classificados em um número restrito e definidos por critérios lingüísticos e formais. Geralmente, cada texto, apresenta mais de um tipo textual, por isso fala-se em seqüências de tipos compondo a textualidade. A classificação se dá pelo tipo predominante.

O trabalho com diferentes gêneros textuais

Ao pensar no como falar ou escrever e, de modo especial, na intenção que permeia essas ações, a pessoa precisa optar por um determinado gênero textual. Desse modo, a escolha do gênero depende das necessidades dos sujeitos que atuam no processo de interlocutivo, do tema sobre o qual se fala ou escreve e dos objetivos que determinam tal processo. Isso significa que, ao assumir uma proposta de trabalho que se assenta na vivência interativa da linguagem e, como conseqüência no letramento, o professor proporcionar aos alunos o convívio e o uso de diferentes gêneros textuais.
Levar para a sala de aula reportagens, e-mails com mensagens interessantes, bulas de remédios ou receitas de bolo, filmes ou propor a produção de cartas, poemas ou um bilhete dizendo que amanhã não haverá aula são artifícios que enriquecem a aula, além de dar abertura para produções de textos.

Prática docente:

No início de cada ano letivo, é de práxis realizarmos alguma atividade que envolva uma dinâmica para que possamos conhecer melhor nossos “novos” alunos. Geralmente faço uma pequena entrevista oral e entrego-lhes um material escrito em que deverão registrar suas respostas referentes a eles próprios: nome completo, idade, a comida preferida, esporte que mais gosta programa de TV que costuma assistir, além de características físicas como cor dos olhos, cabelos, onde costuma ir com a família nos finais de semana, etc. Depois, os alunos fazem a troca das entrevistas e um aluno vai apresentar o outro na frente da turma ou numa roda para que todos possam vê-lo, é lógico que uns são mais tímidos que outros e isso deverá ser respeitado. No entanto, a grande maioria participa e ficam bastante ansiosos para falar. Após a atividade de exploração da oralidade, cada aluno irá escrever um pequeno texto do aluno que entrevistou relatando os dados presentes na entrevista.
Existem inúmeras formas de aproveitar os momentos em sala de aula em algo produtivo e significativo para o aluno. Ao relatar as entrevistas conhecemos um pouco o nosso aluno e isso poderá nos ajudar a entender as dificuldades ou facilidades que determinados alunos apresentam dentro do processo de ensino aprendizagem. Além disso, ao relatar as experiências de vida dos alunos, nós, professores, podemos não só entender certos comportamentos e atitudes apresentadas em sala, como poderemos de alguma forma, ajudá-los a superar alguns traumas, ou vividos em casa ou durante sua vida escolar, fazendo com que eles aprendam a valorizar a si mesmo e o outro e acreditar em si mesmos antes de qualquer aprendizagem cognitiva.